Jardim

“Jardim – Saudades e Lembranças”, por Maria Elza Garcete Gonçalves

Eu sempre gostei de ler e de estudar. Tenho bem viva na memória toda minha vida de estudante na cidade de Jardim-MS.

A escola onde fui alfabetizada em Jardim-MS, o Grupo Escolar Coronel Juvêncio, pela professora Jacy, uma senhora amável, amiga da minha família, que morava poucas ruas abaixo da escola; minhas professoras todas do primário eram moças ou senhoras por quem eu nutria um misto de admiração e temor.

Eu era uma boa aluna, tirava notas boas. O “pecado” que tive nessa época e confessei ao padre José Ferrero, quando me preparava para fazer a primeira comunhão, foi: “Padre, eu reclamo de Deus por ele mandar chuva bem na hora que eu vou à aula!”. Ir à escola era a parte principal do dia! Como nas aulas de catecismo nos ensinaram que devemos “amar a Deus sobre todas as coisas” eu tinha essa preocupação em não pecar.

Aos 11 anos, fiz o exame de Admissão e fui admitida ao curso ginasial, e deixei meus pais muito orgulhosos de mim e eu muito ansiosa com o que estava por vir.

O dia de tirar a foto para a carteira de estudante do Educandário Coronel Felício na COMPANHIA DE ESTRADAS DE RODAGEM-3, ou CER-3, como era conhecido e com responsabilidade pelo curso ginasial em Jardim-MS.

A lista enorme de material que eu levei para casa, sabendo não ter dinheiro para comprar. O misto de vergonha e orgulho que me queimou as faces, quando bateram na janela da sala de aula, e o professor olhou, falou com uma pessoa e me chamou para ir pegar o material escolar do ano todo levado por meu pai para mim. Aquela pilha de livros, todos os que eu precisaria, para o 1° ano do ginasial, eu soube depois como foi que ele conseguiu comprar e, é claro, vou contar aqui.

A livraria era do Sr. Estácio e Dona Geni. Meu pai levou a lista e pediu para falar com os donos, contou que sua filha estava matriculada no ginásio e perguntou se eles teriam algum serviço a ser feito que valesse a lista de material. Meu pai era um trabalhador da construção civil.

Os donos da livraria precisavam que esgotassem o poço morto para refazer as paredes de tijolo que haviam desmoronado. Ele pegou o serviço logo cedo e à tardinha estava arrumada a pilha de livros, cadernos, caderno de desenho, compasso, réguas, todo o material, conforme o combinado com o Sr. Estácio e dali mesmo ele pegou sua carga preciosa e foi triunfante me entregar pela janela da sala de aula.

São valores e exemplos, e mesmo que eu ainda tivesse só 11 anos, entendia perfeitamente!

Estudei o ginásio, nunca fui muito “descolada”, apenas seguia o fluxo das meninas e meninos com quem estudava. Não ia a banhos de rio, ao cinema, não vivi intensamente a adolescência.

Mesmo assim, a cidade de Jardim-MS faz parte das memórias mais afetuosas que tenho da minha infância e juventude!

*Maria Elza Garcete Gonçalves nasceu em Bela Vista/MS, filha do senhor Justo Gonçalves e criada em Jardim/MS.